Por Fernando De Cesare Kolya

Decisões de planejamento estratégico, investimentos, expansão, lançamento de produtos, novas marcas etc. avançam rápido nos negócios familiares, até que, cedo ou tarde, esbarram em algum aspecto relacionado aos anseios e desejos familiares. No pior dos cenários (e isso não é raro), as decisões são postergadas, e não é que não estejam maduras, mas os donos de empresas, precisam resolver questões para as quais nunca foram treinados (questões envolvendo a família e o negócio).

Uma família que certa vez atendi precisava tomar a decisão sobre expandir os negócios, mas sempre esbarrava nos desejos, medos e ambições de cada membro. Do ponto de vista de negócio as alternativas eram claras e o resultado de cada alternativa não trazia muita dúvida, de maneira que tomar a decisão era relativamente simples. Mas como o arranjo de expectativas, desejos, egos não estava bem alinhavado entre familiares, as decisões estratégicas ficavam aguardando algo acontecer (quase como um fiel aguardando um milagre). Mas afinal, por que é mais difícil tomada de decisão sobre sucessão e familiares na gestão do que sobre planejamento estratégico?

Decisões estratégicas de um negócio são complexas, e para lidar com elas podemos nos valer de diversas ferramentas para nos guiar à melhor tomada de decisão. Se preciso decidir a estratégia de crescimento mais apropriada para meu negócio, o caminho natural seria levantar as alternativas, qualificá-las bem, certificar-se de estar usando boas informações, e usar um conjunto de critérios para tomada de decisão! Simples não? Decisões tomadas, agora basta implementá-las.

No dia a dia é mais fácil tomar decisões que são objetivas e tratáveis dentro de um conjunto de parâmetros e critérios, do que tomar decisões que envolvam alta complexidade do ponto de vista “organizacional”, isto é, que precisem levar em conta anseios, egos, vontades etc. Neste caso é necessário mais do que dados e informações precisas, mais do que um bom modelo de análise, é preciso que ocorra processo de debate e discussão envolvendo familiares (e é aqui onde está o grande desafio!).

Vamos supor que tenhamos duas empresas exatamente iguais, com a diferença que uma é familiar e a outra não. Do ponto de vista de complexidade organizacional, a familiar é mais complexa pois enfrenta o desafio adicional mencionado acima. Portanto, a ferramenta para lidar com esta complexidade precisa ser adequada ao problema que temos.

Um processo de mediação é uma ferramenta útil quando temos uma situação na qual os valores, desejos, objetivos podem ser antagônicos. Nestes casos a objetividade do processo decisório parece não ser clara (e de fato não é) e por isso um modelo “cartesiano” para tomada de decisão pode não funcionar. A tomada de decisão quando se trata de família não é aquela que leva ao maior resultado econômico, mas sim aquela que leva ao denominador comum entre as partes.

O fato de decisões em família não serem exatamente lineares, racionais e objetivas explica boa parte da dificuldade de donos, fundadores, titulares e empreendedores terem tamanha dificuldade em endereçar o alinhamento entre família-negócio de maneira apropriada e responde à pergunta central deste artigo. Portanto, se você percebe que a sustentabilidade de longo prazo do seu negócio depende de um entendimento com seus irmãos, filhos, sobrinhos, busque um sistema de mediação para encontrar o denominador comum.

Leia o artigo “5 lições sobre a mediação aplicada às famílias empresárias” publicado em 09/03/2020, disponível em https://www.markestrat.com.br/5-licoes-sobre-a-mediacao-aplicada-as-familias-empresarias/.