Por Fernando De Cesare Kolya

Você já deve ter escutado a frase: “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Ela existe no mundo todo, não exatamente desta forma, mas com o mesmo sentido. Na Ásia é dito que “a riqueza não durará 3 gerações”. Não conseguimos saber há quanto tempo esta frase está sendo dita, só que ela sobreviveu ao efeito do tempo e deve carregar uma boa dose de verdade (mentira tem perna curta diriam). Mas por que isso ocorre e será que dá para fazer diferente?

Será que conseguimos prever a sobrevivência de uma peça de teatro com base no tempo que ela está em cartaz? Na década de 60 comediantes novaiorquinos paravam em uma loja de doces indiana para estimar quando determinado espetáculo da Broadway deveria entrar em decadência. Os comediantes chegaram à conclusão de que a sobrevivência deveria ser igual ao tempo em cartaz, ou seja, se estava em cartaz há 1 ano, deveria viver mais 1 ano, se estava ativo há dez anos, a chance maior era de sobreviver mais 10 anos.

Estatísticos são criativos e sobre a questão dos comediantes, modelaram o fenômeno ao qual foi atribuído o nome de efeito Lindy¹ (esse é o nome da loja de doces onde os comediantes se reuniam). A conclusão que chegaram: o efeito Lindy recaí sobre coisas não perecíveis, tais como ideias, modelos, design, religião e tecnologias e prevê que algo que existe há 40 anos tem uma sobrevivência futura esperada de mais 40 anos e quando alcança 50 anos, sua sobrevivência futura esperada é de outros 50 anos. Assim, quanto mais idade uma coisa (não perecível) tem, maior a chance de continuar viva no futuro próximo.

Os matemáticos dizem que coisas perecíveis tem expectativa de vida expressa em uma curva na forma de banheira, como mostra a figura abaixo.

O que o gráfico mostra é que ao nascermos, a chance de morremos tem um decréscimo acentuado no primeiro momento (se você está lendo este texto, você desceu o lado esquerdo da banheira, ao sobreviver aos primeiros dias de vida); posteriormente, a taxa de mortalidade é constante e regida por eventos aleatórios. Mas à medida que o tempo avança, a taxa de mortalidade volta a subir e cada ano adicional implica em um aumento nas chances de morrer.

Muitos sonham em fugir da curva em formato de banheira (alguns fogem mesmo da banheira), mas cedo ou tarde a banheira nos pega. Se a nossa vida tivesse o formato da curva do efeito Lindy veríamos não uma banheira, mas uma pista de skate com um só lado. Quanto mais o tempo passa, menor a chance de falha/morte daquela coisa.

Mas e negócios familiares, estão dentro ou fora da banheira?

Empresas são empreendimentos inventados pelos humanos, mas que diferente de seu criador, não se encaixam na curva em forma de banheira. Elas podem, em teoria, sobreviver até o infinito. Outras coisas que não se encaixam dentro da banheira são os princípios que balizam a formação de uma família, a forma de fazer negócios, etc.

Negócios que não sobrevivem à passagem de uma geração para outra são aqueles que não ajustam seu modelo de gestão a tempo e deixam a sobrevivência do negócio assumir o mesmo formato da curva de banheira, isto é, sua sobrevivência está atrelada à sobrevivência de seu fundador.

Para que a empresas familiares sobrevivam ao efeito da banheira é preciso planejamento e preparo tanto do fundador quanto das próximas gerações. Tornar perene aquilo que foi construído por uma geração para que passe à próxima e sobreviva à prova da banheira requer algumas lições de casa que tratamos em profundidade aqui na youShare: 1) reuniões de família para construir entendimentos; 2) planejamento do negócio e dos familiares para que coloquem a energia no mesmo sentido; 3) planejamento da sucessão e formação de herdeiros e sucessores.

Tire sua empresa familiar da banheira!