Por Fabio Matuoka Mizumoto

Certa vez eu conduzia uma reunião com os herdeiros de um grupo empresarial quando um jovem adolescente me interrompeu para pedir: “me diz logo o que eu preciso fazer para ser o presidente da empresa. Eu não tenho pressa – pode ser para daqui a dois ou três anos.”

Minha primeira resposta foi retomar com eles os acordos do protocolo familiar e mencionar a existência do plano de carreira da empresa. Mostrei que mesmo os colaboradores mais competentes haviam trilhado muitos anos para chegar à diretoria e que alguns, mesmo depois de décadas, ainda não eram cogitados para a presidência da empresa. Aquele herdeiro me ouvia com atenção, mas parecia se contorcer como quem tentasse se livrar destas regras. Eu percebia nele a vontade em se formar um sucessor competente e a sua ansiedade por fazer acontecer, provavelmente, inspirado na trajetória dos pais. O que fazer?

Minha segunda resposta foi contar o segredo para que ele pudesse se tornar presidente no dia seguinte: empreender. Ao abrir o seu próprio negócio, ele será o presidente. Mas será, claro, um presidente que abre a loja, que atende o cliente e que paga a conta no banco. Neste caso, serão os clientes que julgarão a qualidade do trabalho e não necessariamente os familiares daquele herdeiro. Isto abre portas para a inovação enquanto a tradição é mantida na empresa principal. Exemplo disto surgiu quando roteiristas da Disney quiseram desenvolver animações com um estilo diferente dos “contos de fada e princesas” tradicionais do grupo, mas não estavam livres para fazer diferente. O resultado foi que eles saíram da Disney. Empreenderam na Pixar, tiveram sucesso e, depois de muitos anos, foram comprados pela Disney.

Minha terceira resposta foi explorar a possibilidade de empreender dentro da empresa da família. Em vez de seguir carreira dentro da empresa ou de abrir um negócio fora, um herdeiro candidato a sucessor poderia assumir novas frentes de trabalho, como uma nova região de atuação ou um novo negócio relacionado ao principal. Voltando ao jovem adolescente, perguntei a ele quanto tempo levaria para ele ser bem-sucedido se empreendesse fora ou dentro. A resposta dele foi: “tanto quanto eu levaria para seguir carreira na empresa de meus pais.” Claro que a discussão foi longa. Alguns preferiram a alternativa da carreira na empresa e outros dois grupos se formaram para apoiar a alternativa de empreender, seja dentro do negócio familiar ou em um projeto independente..

A questão central é que a geração atual pode abrir estas alternativas, incluindo uma quarta resposta, que sintetizo da maneira com que aprendi de um amigo: “é melhor as crianças errarem com o dinheiro dos outros para, depois que aprenderem, acertarem com o nosso dinheiro”. A nova geração poderá aprender e lidar com frustrações, realizar-se e ter sucesso considerando a alternativa que for mais apropriada a cada um.

Publicado originalmente em PEGN, em 08/11/2017. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Opiniao-Empreendedora/noticia/2017/11/empresas-familiares-como-jovens-herdeiros-devem-se-preparar-para-assumir-o-negocio.html