Por Fernando De Cesare Kolya

Diferentemente de muitos, que acreditam que o protocolo familiar é uma ferramenta exclusiva para grandes negócios familiares, ou de famílias numerosas, entendemos que o protocolo pertence às famílias empresárias que estão atentas ao futuro e preocupadas em deixar a “casa arrumada” para quando o futuro chegar!

No entanto, no dia a dia, as famílias só percebem a necessidade da construção do protocolo quando momentos chave surgem nos negócios ou na família. São 3 os principais momentos que dão a motivação para as famílias empresárias iniciarem a construção do protocolo familiar:

  • Negócio de fundador único: Negócios construídos por um único fundador tendem a crescer juntamente com o tamanho da família, e geralmente os negócios e família se tornam emaranhados ao longo do tempo. Conforme os filhos crescem e vão trabalhar na empresa, mesmo havendo separação entre os caixas da empresa e caixa da família (e as vezes esta separação não existe), família e empresa se tornam ainda mais emaranhados. A empresa, na mão do fundador, fornece carro, plano de saúde, ajuda financeira aos filhos e netos nas mais diversas situações, como compra de casa, viagem da família, e até mesmo patrocínio ao neto que quer se tornar jogador de futebol. Entretanto, o fundador em algum momento percebe que não é eterno e constata que criou um modelo de relação família-negócio que só é sustentável enquanto ele está no comando, e que, ao se afastar do negócio e passar o comando para a próxima geração, que haverá muito conflito e que é necessário discutir regras e separar o que é família e o que é negócio, e, principalmente, definir até que ponto o negócio irá servir à família e a família servirá ao negócio. Dessa forma, surge a necessidade de elaborar o protocolo familiar criando o ambiente e a forma correta para alinhar as regras entre todos os familiares.
  • Sociedade de irmãos fundadores: Outra situação é quando há uma sociedade entre irmãos, em que começaram juntos, deram o sangue, suor e lágrimas para construir o empreendimento. Com o crescimento do negócio e das famílias, há também um aumento da pressão que a família coloca sobre o negócio. Por exemplo: em função do crescimento e necessidades da família, os irmãos (que são sócios) demandam mais recursos para custear a escola dos filhos, viagens, investimentos pessoais, saúde da família, benefícios, carro do filho mais velho etc. Em parte, essas questões podem ser tratadas no acordo de sócios que vai organizar as regras de distribuição de lucros e reinvestimentos. Entretanto, outra parte deverá estar acordada entre as famílias, como por exemplo, se há expectativa que o negócio ajude na formação de herdeiros, ou na manutenção da saúde dos familiares. Essas discussões e acordos são importantes para nivelar a expectativa dos familiares e devem ser registrados no protocolo familiar.
  • Sociedade de irmãos ou de primos herdeiros: Uma terceira situação que leva as famílias a buscarem a construção do protocolo, geralmente tem relação com a aproximação dos herdeiros do negócio, sobretudo quando se trata da segunda geração de uma sociedade entre irmãos ou da 3ª geração de uma sociedade de fundador único, no futuro a sociedade será um consórcio de primos. Neste momento, a geração que está no negócio se depara com o desafio de gerenciar a entrada de mais familiares no negócio, e percebem que não há espaço para todos, e mesmo se houver, o negócio, assim como as relações familiares, poderão sofrer caso as regras não estejam claras. Assim, as famílias discutem regras e acordos sobre entrada de herdeiros na gestão, planejamento sucessório, formação de herdeiros e inovação na família. Todos estes debates podem, – e recomendamos que sim -, ser registrados no protocolo familiar.

Estes 3 momentos são os mais marcantes das famílias empresárias, e que geralmente suscitam a construção do protocolo familiar. Mas acreditamos e reforçamos que o agora é sempre a melhor hora de construir o protocolo!