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Boletim Doutor Agro- Setembro/Outubro

Safra de Grãos Será Menor em 2023/24, Mas Soja Deve Crescer

Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Beatriz Papa Casagrande

Reflexões dos fatos e números do agro em agosto/setembro e o que acompanhar em outubro

Na economia mundial e brasileira, segundo o Boletim Focus do Banco Central do Brasil divulgado em 18 de setembro, espera-se um IPCA de 4,86% (queda mensal) em 2023 e de 3,86% (também queda) em 2024. Para o indicador de crescimento econômico (PIB), é estimada uma recuperação com crescimentos de 2,89% (alta) para este ano e 1,50% (alta) para o próximo. Enquanto isso, a taxa de câmbio deve ficar em patamar próximo de 4,95 (baixa) até o final de 2023 e 5,00 (baixa) ao final de 2024. Já a Selic foi estimada em 11,75 e 9,00, respectivamente, para o ano corrente e o posterior, ambas em manutenção.

No agro mundial e brasileiro, o indicador que mede os preços globais dos alimentos realizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) foi de 121,4 pontos em agosto, apresentando uma queda de 2,1% ou 2,6 pontos em comparação a julho, revertendo a recuperação observada no mês passado. A retração pode ser explicada pelo recuo nos preços dos produtos lácteos, óleos vegetais, carnes e cereais. No entanto, apesar da queda geral no último grupo, o arroz atingiu o maior valor dos últimos 15 anos, por conta das restrições de comercialização da Índia, o maior exportador mundial, depois de uma quebra de safra no país. Enquanto isso, apenas o grupo do açúcar cresceu no período. O adoçante teve alta mensal de 1,3% e anual de 34,1%. Situação observados por conta dos impactos do fenômeno climático El Niño com secas e chuvas abaixo da média na Índia e Tailândia causando incertezas quanto a oferta global.

Na 5ª estimativa para a sagra global de grãos em 2023/24, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ampliou a previsão de oferta do milho em 790 mil t, com a melhora do clima nos Estados Unidos nesta reta final de safra: estava em 1,213 bilhão de t em agosto e foi a 1,214 bilhão agora em setembro. Se confirmada, a produção será 5,1% superior à de 2022/23. A projeção americana foi a única reajustada entre os grandes produtores, de 383,83 milhões de t (agosto) para 384,42 milhões de t (setembro). China, Brasil e Argentina seguem com 277,0 (-0,07%), 129,0 (-5,8%) e 54,0 (+ 8,8%) milhões de t, respectivamente. Resultado da alta na previsão para o cereal, os estoques de milho foram também revistos para cima e estão agora estimados em 314,0 milhões de t, alta de 4,85% na comparação com o ciclo passado.

Desde a revisão pelo USDA, os preços futuros do milho em Chicago registraram queda: o contrato dez/2023 estava cotado em US$ 4,838/bushel em 14 de setembro e foi a R$ 4,707/bushel em 18 de setembro.

Na soja, o comportamento foi o contrário: revisão para baixo na estimativa de produção global, em 1,46 milhão de t, estando agora estimada em 401,33 milhões de t, ainda 8,4% superior ao ciclo passado. Se por um lado o milho americano fora beneficiado neste relatório, na soja, a previsão veio abaixo do esperado: estava em 114,25 milhões de t (agosto) e agora foi a 112,84 milhões de t (setembro). Brasil e Argentina, que ainda estão iniciando o plantio da oleaginosa, seguem com 163,0 (+ 4,5%) e 48,0 (+92,0%) milhões de t, respectivamente. Do lado dos estoques, o USDA reduziu a previsão em 160 mil t e espera 119,25 milhões de t ao final de 2023/24, alta de 15,8% no comparativo com o ciclo anterior.

Ainda sobre os preços, as negociações em Chicago também caíram para a leguminosa, mesmo com a revisão para baixo neste relatório. No contrato de nov/2023, as negociações terminaram 14 de setembro em US$ 13,610/bushel e foram a US$ 13,180/bushel na data de fechamento da nossa coluna, em 18 de setembro.

Já no algodão, uma boa notícia: após a revisão da oferta nos Estados Unidos, o Brasil deve ultrapassar os americanos e se tornar o 3º maior produtor global neste ciclo. No relatório passado, o USDA indicava a produção norte americana da pluma em 3,05 milhões de t e, neste, reduziu para 2,86 milhões de t (-9,2% em relação ao último ciclo). Como a previsão para oferta brasileira está em 3,01 milhões de t (+ 4,2%), Pode ultrapassar os americanos, se confirmado o nosso resultado no campo. Em âmbito global, a produção foi reajustada para 24,47 milhões de t (estava em 24,85) e deve fechar 2023/24 com queda de 5,3%. Os estoques, por sua vez, devem ser 3,5% inferiores, totalizando 19,6 milhões de t. Apesar da baixa, os preços da pluma na bolsa de Nova York permaneceram praticamente estáveis nos últimos dias. O contrato para dez/2023 estava em 87 cents/lb em 14 de setembro e foram a 87,80 cents/lb em 18/09.

No campo, as condições “boas” + “ótimas” das lavouras norte-americanas em 17 de setembro estavam: no milho em 51% (2022: 52%); soja em 52% (2022: 55%); e algodão em 29% (2022: 33%). O relatório também mostrou que as colheitas já foram iniciadas e, na mesma data, registram o seguinte progresso: 9,0% no milho (média das últimas 5 safras: 7,0%); 5,0% na soja (média das últimas 5: 4,0%); e 9,0% no algodão (média: 10,0%).

No Brasil, em setembro, foi divulgado o 12º e último relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2022/23 de grãos. A produção foi novamente ampliada, dessa vez para 322,75 milhões de t, alta de 18,4% em relação a temporada anterior (272,64 milhões de t). O milho obteve um aumento anual expressivo de 16,6%, um total de 131,85 milhões de t. Destes, 27,37 milhões de t são provenientes da 1ª safra (+9,4%), 102,16 milhões de t da 2ª (+18,9%) e 2,33 milhões de t da 3ª safra (+5,3%). A soja, por sua vez, continua sendo a principal cultura a impactar no volume total, com 154,62 milhões de t (+23,2%). Já a produção do algodão em pluma, foi projetada em 3,15 milhões de t (+23,3%).

A área utilizada para os grãos na safra 2022/23 foi de 78,50 milhões de ha (+5,3%). Desse total, as culturas de inverno utilizaram 4,22 milhões de ha (+11,2%), enquanto a produção foi estimada em 12,67 milhões de t (+2,1%). A média da produtividade desses cultivos caiu 8,2% em relação ao ciclo passado, ficando em 3,0 kg/ha devido aos efeitos do El Niño, caracterizado pela abundância de chuvas e aumento de temperatura na região Sul. Segundo a Companhia, a canola foi a cultura que mais retraiu em produtividade (-28,2%), seguida pelo trigo (-8,3%). No entanto, em ambos os casos a produção registrada é maior que ao ciclo passado: 103,4 mil t (+7,5%) e 10,82 milhões de t (+2,5%), respectivamente, por conta da área plantada significativamente maior.

A Conab também divulgou as perspectivas para a safra 2023/24 de grãos, que está começando. O órgão estima uma produção de 319,5 milhões de t, queda de 1,0%. A soja deve produzir 162,4 milhões de t (+ 5,1%), o milho 119,8 milhões de t (-16,1%) e o algodão em pluma 2,98 milhões de t (- 5,6%). A queda na produção total é esperada em virtude do grande resultado adquirido na safra 2022/23 (bem acima do que era esperado), bem como de prováveis impactos do clima e do El Niño na produção brasileira.

Em relação a área cultivada, ao todo, os agricultores brasileiros devem semear 78,9 milhões de ha, alta de 0,5% no comparativo com o ciclo passado. Destes, serão 45,3 milhões de ha para a soja (+2,8%), 21,2 milhões de ha no milho (-4,8%) e 1,69 para o algodão (+2,0%). A redução na área de milho advém tanto do cereal cultivado em 1ª safra (4,2 milhões de ha | – 5,4%) como no milho safrinha (16,4 milhões de ha | -4,8%).

As exportações do agronegócio brasileiro cresceram 6,6% em agosto, alcançando um novo recorde de U$ 15,63 bilhões, sendo responsáveis por 50,4% de tudo o que foi exportado pelo país. Embora os preços internacionais dos alimentos tenham registrado queda no período (-10,9%), esse cenário foi resultado do maior volume negociado (+19,7%), principalmente por conta da grande safra de grãos colhida em 22/23. O Brasil vem conquistando participação no mercado mundial.

Dentre os principais setores que contribuíram com nesses números destaca-se, em primeiro lugar, o “complexo soja”, que continua na liderança com US$ 5,59 bilhões (+12,2%) e representação de 35,7% do valor total exportado. É notável a ampliação da participação chinesa nas vendas da soja em grãos (+15,6% em relação a 2022). Diante disso, a cada 4 grãos de soja exportados pelo Brasil, 3 são enviados para o país asiático. Em segundo lugar, os “cereais, farinha e preparações” atingiram o patamar mais alto da série histórica, com US$ 2,39 bilhões ou 9,69 milhões de t comercializadas no último mês. Nesse setor, o milho se destaca participando de 90% do total, isso porque a grande safra recorde em 22/23 resultou em embarques também recordes.

O setor das “carnes” ocupou o terceiro lugar na lista, com US$ 2,06 bilhões exportados em agosto. Na carne bovina, os embarques totalizaram US$ 941,05 (-30,6%). Já a carne de frango alcançou US$ 815,65 (-9,4%), e a suína US$ 250,89 (-5,8%). Em seguida, o “complexo sucroalcooleiro” preencheu o quarto lugar com US$ 1,95 bilhões (+38,1%). Foi o único setor a apontar elevação nos preços, puxado pela alta do açúcar diante das incertezas na oferta internacional e aliado a boa safra brasileira. Por fim, a quinta posição foi dos “produtos florestais”, exportando US$ 1,10 bilhão (-21,6%) com protagonismo da celulose que representa quase metade do total.

Nas importações, o Brasil comprou US$ 1,46 bilhão em produtos do agronegócio em agosto (-13,0%). Assim, a balança comercial foi positiva em US$ 14,16 bilhões (+9,2%).  De janeiro a agosto, as exportações somaram US$ 112,68 bilhões, 4,2% acima do observado no ano anterior.

Na atualização mensal do Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) trouxe o número de R$ 1,142 trilhão em 2023, frente ao R$ 1,135 trilhão estimado em agosto. O valor é 2,4% ou R$ 27 milhões maior em relação ao obtido em 2022 (R$ 1,115 trilhão). As lavouras devem entregar um montante financeiro de R$ 804,3 bilhões com crescimento de 4,2%, e a pecuária deve faturar R$ 338,3 bilhões, um recuo de 1,6% frente ao ano anterior. O recorde na produção de grãos, preços dos produtos e exportações são os principais aspectos que resultaram nesse cenário. Os 5 principais produtos que participam do valor total são: soja (41,0%), milho (17,7%), cana-de-açúcar (13,2%), café (6,0%) e algodão (3,8%). Além disso, diversos produtos tiveram recordes do VBP em 2023, desde o início do cálculo há mais de 30 anos, são eles: amendoim, cana-de-açúcar, feijão, laranja, mandioca, milho, tomate, entre outros.

O fenômeno climático El Niño tem 95% de chance de se estender entre janeiro e março de 2024, segundo o Centro de Previsão Climática (CPC) dos Estados Unidos. Condições mais extremas podem ser desencadeadas, como: incêndios florestais, ciclones tropicais e secas prolongadas. Os impactos se estendem globalmente, provocando maior impacto em mercados emergentes que são mais suscetíveis a flutuações nos preços de alimentos e energia. Além disso, a próxima estação de crescimento agrícola no Hemisfério Sul, incluindo áreas na África do Sul, sudeste asiático, Austrália e Brasil, pode ser afetada pelo fortalecimento do El Niño, especialmente devido ao clima mais seco e quente do que o normal.

Ainda sobre o El Niño, a alteração no regime de chuvas causado pelo fenômeno pode impactar a logística de embarques de produtos agrícolas no Canal do Panamá. Em decorrência da seca, as autoridades planejam impor restrições ao tráfego de navios durante um ano, o que afetaria as exportações dos Estados Unidos, principalmente de grãos, para o mercado asiático. O Rabobank pontua que os portos do Pacífico se tornarão alternativas essenciais, e o Brasil surge como um mercado alternativo relevante. A perda de competitividade dos portos americanos pode aumentar a demanda por grãos brasileiros, que têm estoques significativos e podem se beneficiar da janela de exportação de outubro a maio. 

No primeiro semestre de 2023, 18,61 milhões de t de fertilizantes foram entregues ao mercado brasileiro, um aumento de 2,4% em relação as 18,18 milhões de t registrados no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Mato Grosso foi o estado líder nas entregas, representando 25,2% do total (4,69 milhões de t). Em seguida veio o Paraná (2,34 milhões), Goiás (2,09 milhões), São Paulo (1,67 milhão), Rio Grande do Sul (1,62 milhão) e Minas Gerais (1,43 milhão).

Os estoques de suco de laranja no Brasil chegaram a atingir o nível mais baixo de toda a série histórica, caindo 40,7% em relação ao ciclo anterior, totalizando 84,74 mil t, segundo a CitrusBR. Enquanto isso, a produção esperada para a temporada 2023/24 é de aproximadamente 309,34 milhões caixas de 40,8 kg, são 4,66 milhões a menos do que o registrado na safra 2022/23, de acordo com o Fundecitrus. O aumento da incidência da doença do greening no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro é um dos principais fatores que afetam a produção, com um aumento significativo de 24% para mais de 38% em relação ao ano anterior. É um momento delicado para o setor, no qual a união dos produtores para o manejo correto será determinante para redução da incidência.

O agronegócio brasileiro alcançou um número recorde de empregos no segundo trimestre de 2023, com 28,3 milhões de trabalhadores, representando 26,9% de todas as ocupações do país (+0,8% em relação a 2022). O resultado foi impulsionado pelo crescimento nos agrosserviços (+7,5%) e no segmento de insumos (+6,7%), relacionado ao desempenho positivo da produção agrícola. No entanto, a agropecuária viu uma queda de 5% na força de trabalho, principalmente em categorias como “outras lavouras”, horticultura, café e cereais na agricultura, além da criação de bovinos e “outros animais” na pecuária. Esse crescimento no emprego também se refletiu na formalização e no aumento do nível de instrução dos trabalhadores no setor.

O setor agro do Brasil é referência mundial em logística reversa de embalagens de defensivos. Nos últimos 20 anos, essa prática resultou na redução de cerca de 1 milhão de toneladas de emissões de CO2, o que equivale a 18,41 mil viagens de caminhão ao redor do mundo. Em 2022, o segmento destinou corretamente 52,5 mil t de embalagens vazias, atingindo um total de 700 mil t desde 2002, de acordo com dados do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).

A Forbes divulgou a lista das 10 maiores cooperativas de produção agropecuária no país, com base no resultado de 2023. Juntas, elas somam faturamento de R$ 157 bilhões. O Top 5 de faturamento é composto por: 1º) Coamo (PR) com R$ 28,1 bilhões; 2º) C.Vale (PR) com 22,7 bilhões; 3º) Lar (PR) com R$ 22,1 bilhões; 4º) Aurora (SC) com R$ 22,0 bilhões; e em 5º) a Comigo (GO) com R$ 15,7 bilhões. Parabéns a força cooperativista nacional no agro, nosso reconhecimento pelos grandes resultados.

Concluímos a conjuntura do agro com os preços dos principais produtos do setor. Na soja, considerando a entrega em cooperativa do estado de São Paulo (FOB) em meados de setembro, a cotação estava em R$ 135,80/sc (60 kg), enquanto o contrato de mar/24 era negociado a R$ 124,80/sc. No milho, o preço físico estava em R$ 54,00/sc e o futuro (B3) em R$ 57,55/sc (nov/23) e R$ 65,37/sc (mar/24). No algodão (Base Esalq), o preço era de R$ 133,57/@, uma nova baixa mensal. Outros produtos do agro, segundo o Cepea/Esalq, estavam cotados em: café arábica a R$ 825,15/sc (60 kg); o trigo Paraná em R$ 1.064,46/t; a laranja indústria (a prazo) em R$ 45,58/cx (40,8 kg) e o boi gordo em R$ 213,70/@.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:

  1. A fase inicial de plantio da safra verão de grãos 2023/24 no Brasil. Algumas áreas já iniciaram as operações, mas outubro é marcado por ser o mês em que acontece o maior avanço da semeadura. Importante olhar para o clima e os efeitos do El Niño nesse momento, o qual pode interferir tanto no avanço das operações, como no desenvolvimento inicial das culturas. É grande a preocupação com a logística de fertilizantes.
  2. Evolução da colheita de grãos 2023/24 nos Estados Unidos. O país norte-americano iniciou as atividades e em ritmo superior ao das últimas cinco safras. Vale acompanhar diariamente este progresso, lembrando que o clima pode ser decisivo neste final de ciclo (possibilidade de geadas e chegada da neve).
  3. As discussões do Marco Temporal que, caso seja derrubado, poderia ampliar a participação das terras indígenas no Brasil de 14% para 30%, um absurdo impactando de forma direta a produção agrícola nacional. O projeto que institui a demarcação já foi aprovado na Câmara e agora avança no Senado, enquanto o Supremo Tribunal Federal discute sobre a pauta. Vamos torcer para que o congresso avance nesse assunto e coloque uma pá de cal neste risco institucional.
  4. As novas tentativas da Ucrânia de escoar a sua produção de grãos por corredores alternativos no Mar Negro após o término do acordo com a Rússia. Alguns testes foram bem-sucedidos e outros navios começam a chegar a portos ucranianos. Vamos acompanhar os desdobramentos e se haverá alguma reação russa.

Olhar para o câmbio, que após se aproximar dos R$ 5 no início do mês, sofreu uma queda expressiva e está agora (data de fechamento da coluna) em torno de R$ 4,86. A tendência é seguir com queda, o que pode prejudicar o produtor que ainda não vendeu a safra, mas pode beneficiar aqueles que pretendem investir na 2ª safra (compra de insumos).

Agro é o Grande Responsável Pelo PIB Brasileiro

Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Vinicius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande

Reflexões dos fatos e números do agro em junho e o que acompanhar em julho

Na economia mundial e brasileira, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou o mês de maio com alta de 0,23%, um valor abaixo do previsto, sendo 0,38 p.p. inferior ao registrado em abril, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual atingiu o menor nível desde agosto de 2020, salvo as deflações ocasionadas em meados de 2022 pela desoneração de impostos sobre os combustíveis. O acumulado nos 5 primeiros meses do ano foi de 2,95%, enquanto nos últimos 12 meses alcançou 3,94%.

Já as previsões econômicas divulgadas pelo Banco Central por meio do Boletim Focus, em 19 de junho, indicam um IPCA de 5,12% (baixa em relação ao mês passado) para 2023 e 4,00% (queda) em 2024. Para o Produto Interno Bruto (PIB), o órgão estima um crescimento de 2,14% (alta mensal) neste ano e, em contrapartida, um avanço menor para 2024 de 1,20% (baixa). O câmbio deve encerrar 2023 em R$ 5,00 (baixa), e 2024 em R$ 5,10 (queda). Por último, para a taxa Selic a perspectiva é de 12,25% ao final deste ano e 9,50% no fim de 2024, queda em ambos os períodos na comparação com a previsão do mês anterior. As alterações nas previsões para a economia vieram após o anuncio de crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB) acima das expectativas do mercado no 1º trimestre: 1,9%. O resultado foi puxado pelo grande crescimento do setor agropecuário, de 21,6% no período.

No agro mundial e brasileiro, o Índice de Preços dos Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) alcançou uma média de 124,3 pontos em maio, configurando queda de 2,6% no comparativo com abril e redução de 22,1% em relação ao recorde histórico de março do ano passado. Essa pontuação é a mais baixa em 2 anos (desde abril de 2021). A retração foi puxada principalmente pela queda significativa nos preços dos óleos vegetais, laticínios e grande parte dos cereais. O último, recuou 4,8% em relação a abril, liderado pela baixa expressiva de 9,8% no milho por conta das previsões favoráveis à produção, demanda mais tímida e cancelamentos de compras chinesas do cereal americano. Além disso, as cotações do trigo caíram 3,5% em função da extensão da Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Esses números superaram as altas do açúcar (5,5%), arroz e carnes (1,0%).

Na previsão de junho (2ª) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global de milho em 2023/24 foi revista para cima em 3,15 milhões de t: de 1,219 bilhão em maio para 1,222 bilhão agora em junho. A alta é justificada, principalmente, pela revisão dos números da Ucrânia, de 22,0 (maio) para 24,5 (junho) milhões de t. Demais países de importância global permanecerem com os mesmos valores: EUA deve produzir 387,5 milhões de t (+11,2%); China, 380,0 milhões de t (+1,0%); Brasil com 129,0 milhões de t (-2,3%); e Argentina com 54,0 milhões de t (+54,3%). Com o crescimento na produção, os estoques foram também revistos para cima, agora estimados em 314,0 milhões de t; 1,0 milhão de t a mais que o mês passado e crescimento de 5,5% na comparação com a safra anterior.

Ainda sobre o milho, vale destacar que o USDA reviu para cima a oferta do cereal na safra 2022/23 no Brasil, ainda em andamento. A nova previsão é de 132,0 milhões de t neste ciclo, alta de 13,8% ou 16 milhões de t adicionais na comparação com 2021/22.

Na soja, o USDA estimou uma produção global praticamente igual à do mês passado para 2023/24: 410,7 milhões de t, apenas 115 mil t maior do que a estimativa de maio e 11,1% superior ao ciclo anterior. Brasil segue com 163,0 milhões de t (+ 4,5%), seguido de Estados Unidos com 122,7 milhões de t (+ 5,5%) e Argentina com 48,0 milhões de t (+ 92,0%); todos eles sem alteração deste o último relatório. Já os estoques globais da oleaginosa foram revistos para cima em 842 mil t e estão agora apontados em 123,3 milhões de t, 21,7% maior do que 2022/23 ou 22,0 milhões de t adicionais.

No algodão, uma leve alta na estimativa da produção global: estava em 25,189 milhões de t (maio) e foi a 25,413 milhões de t (junho). Se confirmada, a produção será apenas 0,3% superior do ciclo passado, configurando uma relativa estabilidade na oferta. Segundo o USDA, China, Índia e Estados Unidos (os três principais produtores) devem produzir 5,88 (- 12,0%), 5,55 (+ 2,0%) e 3,59 (+ 14,0%) milhões de t, respectivamente. No Brasil, a produção foi revista para cima em 224 mil t este mês, e agora deve ser de 1,29 milhões de t, alta expressiva de 51,4%. Estoques finais devem permanecer praticamente no mesmo patamar de 2022/23, em 20,20 milhões de t.

Nos Estados Unidos, após alguns dias sem chuvas em regiões produtoras, as condições das lavouras de grãos começam a chamar a atenção. No milho, até 18 de junho, as condições excelentes estavam em 8,0% (era de 13,0% há um ano) e boas em 47,0% (2022: 57,0%). Na soja, 7,0% estavam em nível excelente (2022: 10,0%) e 47,0% em bom (2022: 57,0%). Já as lavouras de algodão se encontram em evolução melhor: 6,0% em condições excelentes (2022: 4,0%) e 41,0% em boas (2022: 36,0%). O acompanhamento é também do USDA. Permanecendo o problema com o clima, é bem provável que ocorram perdas; vamos acompanhar!

Ainda no cenário internacional, a explosão da barragem da usina de Kakhovka, na Ucrânia, pode ter impacto duradouro na produção agrícola do país. Milhões de t de grãos podem ser perdidos pelas inundações e, ainda, cerca de 500 mil ha de terras ficaram sem irrigação, o que vai afetar diretamente os rendimentos. Além disso, a destruição impediu a navegação em importante rota de exportação agrícola.

No Brasil, o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o mês de junho aponta um novo recorde de produção para a safra 2022/23 de grãos em 315,8 milhões de t. Esse volume representa aumento de 15,8% frente à temporada anterior, são 43,2 milhões de t a mais. A projeção da área cultivada é 4,8% maior neste ciclo ou 3,6 milhões de ha superior, resultando em um total de 78,1 milhões de ha. O destaque de maior crescimento vai para a soja com 155,7 milhões de t (+24%) ou 30,2 milhões de t acima do colhido em 2021/22.

No milho, o cenário não é diferente, a projeção é de 125,7 milhões de t (+11,1%) nas 3 safras ou 12,6 milhões de t a mais, sendo 27,1 milhões de t já praticamente colhidos na 1ª safra, 96,3 na 2ª safra que está em fase inicial de colheita e 2,3 na 3ª safra. Em ambos os casos, as boas condições climáticas e o bom pacote tecnológico contribuíram para os resultados. Para o algodão, a colheita da pluma é estimada em 2,98 milhões de t, 16,6% maior se comparada às 2,55 milhões de t colhidas no ciclo anterior.

O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) elevou a projeção para a safra 2022/23 de milho no estado para 48,99 milhões de t (ante os 47 milhões de t previstos em maio), um novo recorde. Em relação a temporada anterior, o crescimento é de 11,74%. A melhor distribuição das chuvas, o grande volume de plantio dentro da janela ideal e o consequente aumento de produtividade foram os principais fatores que contribuíram para o ajuste positivo. O Mato Grosso passa a ser maior que a Argentina!

Em relação as culturas de inverno, a Companhia estima uma produção de aproximadamente 11,5 milhões de t, sendo 7,4% menor que os 12,4 milhões de t alcançados na temporada 2021/22. Os holofotes apontam para o trigo com um crescimento de 9,7% em área que deve resultar em uma produção de 9,8 milhões de t (-7,4%). É notável o aumento de área em quase todas as culturas desse segmento, no entanto, existe uma expectativa de redução na produtividade para todos os cultivos e, consequentemente, na produção, isto por conta da confirmação do fenômeno climático El Niño, que costuma causar chuvas acima da média na região Sul.

Falando no assunto, a confirmação da ocorrência de El Niño no Brasil tem preocupado. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, a probabilidade de ocorrer um evento moderado é de 84% e forte de 56% (chances elevadas na última análise). O fenômeno provoca alterações climáticas de maneira bastante heterogênea. No Brasil, a região Sul do país experimenta precipitação abundante, chuvas intensas e elevações nos níveis de temperatura. Já a faixa norte das regiões Norte e Nordeste é atingida por secas e, consequentemente, elevações nos números de incêndios florestais.

Na última divulgação da Conab (12/06) sobre as fenologias das lavouras, o algodão estava com 14,9% do cultivo em formação de maçãs; 84,2% já em fase de maturação e apenas com 0,9% colhido (contra 1,6% no ciclo passado), sendo a Bahia e Mato Grosso do Sul os estados mais avançados. Já as lavouras de milho 2ª safra estão com 1,7% do total colhido (Mato Grosso despontando na frente), enquanto na safra 2021/22 esse volume atingia 4,9% do total, isso porque as chuvas no início do plantio podem ter atrapalhado as atividades em algumas regiões produtoras, mas apesar do atraso, o rendimento e a qualidade dos grãos são satisfatórios. Os estádios fenológicos estão com 1,7% em desenvolvimento vegetativo, 8,9% em floração, 40,4% em enchimento de grãos e 47,3% em maturação. Por fim, as operações de colheita do trigo ainda não iniciaram, mas o cultivo em campo está com 46,9% da área semeada, praticamente no mesmo patamar do ano passado.

Em maio, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 16,78 bilhões, alta de 11,2% no comparativo com o mesmo mês de 2022 e uma participação de 50,8% em tudo o que foi vendido pelo Brasil neste mês. Para os resultados em volumes, os destaques positivos foram a soja em grãos com 15,6 milhões de t (+ 46,5%), e o açúcar com 2,41 milhões de t (+ 54,2%). Já os negativos foram o milho, que registrou apenas 382 mil t embarcadas (- 64,8%) – resultado do baixo estoque gerado pela venda externa elevada em meses anteriores – e para a categoria “madeira e suas obras’’, que embarcou 721 mil t (-28,2%).

O top 5 das categorias com maior receita tem, na liderança, o “complexo soja” com US$ 9,89 bilhões (+ 21,2%), dos quais a soja em grão responde por 82,2% ou US$ 8,13 bilhões (+ 22,9%). Na segunda posição aparecem as “carnes” com receita de US$ 2,10 bilhões (- 5,4%), dos quais: a carne bovina vendeu US$ 952 milhões (- 11,8%); a de frango US$ 854 milhões; e a de porco com US$ 249 milhões (+ 24,1%). Em terceiro, ficaram os “produtos florestais”, com receita de US$ 1,24 bilhão (- 20,8%), seguido do “complexo sucroalcooleiro” (4º) que somou US$ 1,21 bilhão (+ 81,2%), dos quais US$ 1,14 bilhão advém das vendas de açúcar. Por fim, na quinta posição apareceu o café, que há meses não ficava entre os 5 principais produtos embarcados. O estimulante registrou receita de US$ 604 milhões, baixa mensal de 5,2%.

Do outro lado da balança comercial, as importações do setor somaram US$ 1,38 bilhões em maio (- 8,7%), o que possibilitou um saldo mensal de US$ 15,4 bilhões. No acumulado de 2023 (janeiro a maio), o agro brasileiro já vendeu US$ 67,3 bilhões (+ 5,8%) e importou US$ 7,08 bilhões (+ 7,2%), o que resulta em um saldo acumulado de US$ 60,2 bilhões até o momento (+5,6%).

O Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária para 2023 foi estimado em R$ 1,179 trilhão em junho, 3,8% acima do verificado em 2022 (R$ 1,135 trilhão), mas com queda de R$ 36 bilhões em relação a maio, devido à redução nos preços de vários produtos. Do total, a produção agrícola (lavouras) deve obter um faturamento de R$ 835,5 bilhões (+6,3% que o ano passado) e a pecuária, R$ 343,8 bilhões (-1,85%). A maior protagonista é a soja, que representa 29,3% do total, seguida do milho (12,9%), cana-de-açúcar (9,0%) e café (4,4%). Na pecuária, os bovinos (11,7%) e a carne de frango (7,5%) lideram na participação, mas ao mesmo tempo, foram os que mais contribuíram para a retração do segmento, com quedas de -7,3% e -6,0% respectivamente.

Na área sanitária, até o fechamento da nossa coluna, 39 casos de gripe aviária haviam sido confirmados no Brasil segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A doença aparece com maior intensidade no Espírito Santo, mas estados como a Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul também registraram casos, felizmente apenas em aves silvestres. Por conta disso, o Brasil é reconhecido como país livre da doença no exterior, uma vez que as granjas comerciais não foram atingidas.

As obras da Ferrovia Norte-Sul – sistema ferroviário que conecta os portos de Itaqui (MA) ao de Santos (SP) – foram concluídas após mais de 35 anos. Os estados do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, grandes produtores de commodities agrícolas, vão se beneficiar ganhando competividade logística para exportar seus produtos seja pelo litoral da Região Sudeste ou pelo Norte do Brasil. 

Finalizando a nossa análise do agronegócio, na sequência, apresentamos os preços dos principais produtos na data de fechamento da nossa coluna. Na soja, a cotação para entrega em cooperativa do estado de São Paulo (FOB) estava em R$ 132,30/sc (60kg) e o futuro em R$ 122,60/sc para mar/2024. No milho, o preço físico era de R$ 55,50/sc e o futuro (FOB) estava em R$ 56,30/sc para ago/2023. Já o milho na B3 (Bolsa Brasileira) era negociado a R$ 71,70/sc para mar/2024. O algodão (base Esalq) estava em R$ 135,01/@ e o sorgo físico fechou em R$ 44,00/sc. Outros preços do agro, de acordo com o Cepea/Esalq, estavam em: boi gordo, R$ 252,95/@; o café arábica em R$ 901,57/sc (60kg); o trigo Paraná em R$ 1.377,99/t; e a laranja para indústria (a prazo) em R$ 43,50/cx (40,8kg).

Os cinco fatos do agro para acompanhar em julho são:

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em comunicação estratégica no agronegócio.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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